quinta-feira, 20 de setembro de 2007

EPÍLOGO

Paula, a delatora de Felipa, foi condenada a apenas seis dias de prisão - depois de pagar 50 cruzados - e a duas aparições públicas como ré, além de um sem número de penalidades espirituais.
Nota
A história aqui contada é uma ficção, mesclada com fatos reais.Da verdadeira história de Felipa, pouco se sabe. Os escritos sobre sua pessoa, sempre tem o mesmo texto, ou mínimas alterações de uma mesma fonte.São essas algumas citações:“Felipa de Souza, 35 anos, letrada, era casada, mas gostava de mulheres. Teve romance com pelos menos seis moradoras de Salvador. Presa, acabou confessando, foi açoitada e obrigada a ouvir sua sentença na igreja da Sé, em pé, com uma vela acesa na mão e trajando o sambenitoveste de linho cru áspero, usada para identificar os heréticos. Por fim, Felipa foi expulsa para sempre da Bahia”.“Felipa de Souza nasceu em Portugal em 1556 e veio para o Brasil ainda menina”. Filha de Fulana Gonçalves e Manoel de Souza, trabalhava como costureira e era casada com o padeiro Francisco Pires, com quem vivia em Salvador. Felipe era alfabetizada, o que era extraordinário, em uma época onde a maioria das mulheres não sabia ler, nem escrever. Tinha 35 anos quando soube ter sido acusada pelo Santo Ofício por práticas nefandas. Presa em 1891, confessou ter tido inúmeros casos com pessoas do mesmo sexo, por quem sentia amor. Em seus depoimentos falou de sua solidão e descreveu também como assediava as mulheres, fingindo estar doente e acamada. Foi severamente punida pela Inquisição. Em 24 de janeiro de 1592, foi obrigada a sair da prisão do Santo Ofício e seguir descalça, vestindo uma túnica branca e segurando uma vela na mão até a Igreja da Santa Sé, em Salvador. Ouviu sua sentença e foi barbaramente açoitada em público. Foi degredada do Brasil e morreu no exterior. Por ter sido a mulher mais humilhada e castigada da colônia, recebeu como homenagem o principal prêmio internacional de direitos humanos do Homossexuais, o "Felipa de Souza Award".“Em 1593, uma mulher brasileira chamada Felipa de Souza foi torturada pela Inquisição portuguesa, acusada de praticar lesbianismo”.Sua história também é descrita pelo IGLHRC da seguinte maneira:“In 1591 the Inquisition began its notorious "confession sessions" in the northeast of Brazil, basing their operations in Salvador, then the capital of the Portuguese colony. The aim of these sessions was to search for and arrest those accused of sins and crimes against the faith and sexual morals. Amongst the first to confess was Paula de Sequeiro who, on August 20, accused a widow named Felipa de Souza -- from whom she had been receiving love letters for two years -- of having shared many moments of physical pleasure.As the "nefarious and abominable crime of sodomy" was punishable by death, and knowing that the Inquisitors were sympathetic to those who volunteered confessions, many panic-stricken women came forward and admitted to intimate relations with Felipa.Felipa had previously been expelled from a convent in Portugal for the crime of sodomy. She must have caused a good deal of apprehension in the small Salvador, as she was the only one of the accused women to face the Inquisition's court. During the trial, she admitted to having had intimate relations with the woman mentioned, brazenly stating that "all those communications provided her much love and carnal affection."Found guilty, Felipa's sentence was less severe than that doled out to other women accused of the same crime in Europe at the time. On January 4, 1592, she was condemned to exile. Holding a lit candle, barefooted and wearing a simple tunic, she was viciously whipped while walking the streets of Salvador so she could serve as an example to all the inhabitants. As spiritual penance, she was forced to fast on bread and water for 15 Fridays and 9 Saturdays. She was then expelled from the state of Bahia, taking with her "her vices and ill reputation." Besides the shame and public humiliation of her punishment and exile, Felipa de Souza had to pay for the trial costs: 992 reis, at the equivalent of a sailor's monthly salary, or three months of a manual laborer's pay”.Based on an extract from O Lesbianismo no Brasil, by Luiz Mott (Mercado Aberto, 1987).O Órgão não Governamental Americano IGLHRC ( International Gay and Lesbian Human Rights Commission). A considera o maior mártir da causa homossexual, símbolo mundial dos maus tratos, tortura e da repressão do direito do cidadão, em escolher sua opção sexual.Esse órgão trabalha com pessoas que contribuem nos assuntos referentes à comunidade homossexual mundial, sua meta é assegurar, dentro do possível, que direitos humanos desses cidadãos, sejam respeitados, oferecendo assistência jurídica, acesso à documentação, instrução pública e auxílio técnico, no que for tocante à questões de abuso contra os homossexuais.Anualmente a IGLHRC, procura honrar uma organização ou um indivíduo independente de raça, país ou cultura no mundo, que tenha contribuído de forma significante na defesa dos direitos da comunidade gay e lésbica, no tocante à tortura, maus tratos, abusos, discriminação e preconceito para com os portadores do vírus HIV,Através desse prêmio, a organização espera trazer o reconhecimento do público em geral, para aqueles que lutam contra todo tipo de intolerância, que sofrem os homossexuais.Felipa de Souza Award, é o nome do prêmio concedido anualmente a esses cidadãos, desde de 1994. Vem agraciando pessoas de todos os continentes em prol da defesa dos direitos humanos de gays e lésbicas.O que poderia ser um grande orgulho para o Brasil, é um fato quase totalmente ignorado, aqui nem se sabe quem foi essa mulher, e o porquê dela ser considerada um exemplo, uma mártir da luta pela liberdade de expressão sexual.O fato desse descaso com a história de personagens brasileiros, é comum no país, e cabe aos próprios cidadãos divulgar o que aconteceu e acontece, com a nossa verdadeira história.

3 comentários:

Teatrando disse...

Ola, Patricia.
Escrevi um livro sobre Inquisição e hoje, dando uma passada de olho por alguns sites sobre o assunto me deparei com seu blog. Muito bacana você ter escrito o livro desta forma. Comecei a lê-lo hoje e já cheguei ao capítulo 9. Gostaria de trocar alguns e-mails com você sobre o assunto. Daniele Veiga (danieleveiga@yahoo.com.br)

Unknown disse...

Olá,Patrícia!
Meu nome é Douglas Dwight. Sou dramaturgo e roteirista de cinema e gostaria muito de falar com você sobre seu texto sobre Filipa de Sousa. Por favor, entre em contato comigo pelo e-mail douglas.lapa@gmail.com ou pelo telefone 71 99387022
abraço e obrigado pela atenção,
Douglas Dwight

Paula disse...

oi Patrícia, sou atriz de Salvador e fazendo uma pesquisa sobre a Filipa de Souza com o roteirista Douglas Dwight, encontramos seu texto. Gostaríamos muito de falar com vc. Qdo puder por favor entre em contato pelo email paulafmoreno@hotmail.com
Obrigada
Paula Moreno